Esse tal de universo
Nessa cápsula do tempo onde você habita, mora uma gente que você mal conhece. Essas pessoas te falam sobre proteção, sobre estar resguardado dos contratempos. E você sabe que não é bem assim. Houve uma época que sim, podia-se acreditar dessa forma. Tudo parecia uma grande ilha da fantasia, cercada de uma lógica bem menos cruel do que atualmente. Na verdade, muito mais cheia de privilégios e sorte. Isso passou. Ninguém está a salvo, livre da influência da materialidade da vida, do peso das coisas.
O mundo roda numa velocidade que os físicos explicam, mas que a gente (nós dois) nunca entendeu. Vejo que você se esforçou para tentar compreender a lei da física e do universo, lendo esses livros sobre o espaço e desenhando esqueminhas com giz na lousa verde-musgo ou nas folhas do meio do seu caderno brochura.
Ironicamente, você nunca se imaginou como parte do universo, como um ser apto a viver as agruras naturalmente surgidas com o passar de rotações, translações e a dança dos astros.
“Tá vendo aquelas estrelas ali? Sabe o nome delas?”. Você me perguntou assim, uma vez, olhando pro céu, com foguinhos saltando dos olhos. Respondi que não sabia, mesmo que para mim não fizesse diferença porque já me bastava saber que era um grupo de estrelas amontoadas perto de tantas outras. E você tentou dar uma aula cheia de detalhes, como se seus mapinhas espaciais coloridos com canetinhas e lápis de cor estivessem ali, diante de você, para guiar seu raciocínio.
O que pouco lhe importa é se a sua vida tem alguma relação com isso tudo, não é? Quem é você nesse universo de tantos pontilhados que nos rege, mas não nos protege dos atropelos da vida? Estamos sujeitos a tudo, armadilhas impiedosas que suas cores e fantasias não lhe deixam ver. Espero que elas não cheguem de surpresa em seu caminho.
Peço que continue desenhando suas estrelas e planetas, mas que pare de ouvir essa gente louca que vive com você nessa bolha. Acorde e proteja-se! O mundo gira e leva a gente junto.
